sábado, 11 de maio de 2013

O MEDO SALAZARENTO


          Caros leitores: muitos acharão estranho o facto de eu subordinar esta minha opinião ao título em epígrafe. No decorrer da discrição da minha opinião,verão que nada há de estranho neste título.

Falo com conhecimento de causa, pois antes, muito antes do vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro já trabalhava havia uns anitos. Trabalhava no campo sem qualquer regalia social a não ser o dever de me achar com sorte por ser explorado por um cacique em que o horário de trabalho não era de sol a sol ,como ouço muitas vezes alguem queixar-se. Não, não, no meu tempo antes de o sol nascer já tinha que se estar no campo e logo  que se visse um palmo à frente do nariz as enxadas faziam-se ouvir num som baço, em contraste com o silêncio que nos era imposto. Assim, até ao meio dia, molhava-se a camisa e esperava-se pelo almoço, que a fome e o cansaço tornavam num manjar de deuses apesar de muitas vezes não passar de uma simples sopa feita de pão e água e por isso cada um sentava-se o mais longe possível de um companheiro de trabalho, para disfarçar a vergonha da miséria em que cada um de nós vivia. Depois vinha a tarde, a longa tarde, que nunca mais tinha fim e o sol punha-se e não havia ordem para parar. Só quando a escuridão da noite chegava é que o capataz dava a ordem de despegar e o regresso a casa fazia-se a pé muitas vezes tropeçando nas pedras do caminho. Chegava-se a casa outra sopa quente e cama que era preciso descansar, pois já, já, era manhazinha e era preciso levantar. Mesmo assim, antes de adormecer, um pensamento trespassava-nos a cabeça e a pergunta impunha-se: e se o patrão de manhazinha nos dizia que estávamos dispensados pois arranjara quem trabalhava mais barato. Não havia negociações, não havia nada,por isso todas as madrugadas que seguíamos para a labuta tínhamos a obrigação de ser felizes. Isto era a política de Salazar, bem aproveitada pelos caciques de norte a sul de Portugal. Quanto mais mão de obra barata existisse mais o homem se vergava ao medo e se ousava abrir a boca não era só o facto de ser dispensado, havia o medo da denúncia às autoridades e a GNR nos meios rurais depressa acorriam e para lá das bastonadas muitos eram levados e sem mais nem menos eram apelidados de Comunistas e eis que eram condenados sem julgamento a penas que muitas vezes eram tão pesadas que morriam, sem que a família tivesse ao menos conhecimento deste facto. Salazar estava em todo lado, através dos seus acólitos e o medo tornava-se um companheiro para o resto da nossa vida.

Um dia, já farto desta vida fui para a cidade.Pensava eu que lá a vida era diferente. Puro engano. Ao fim de pouco tempo percebi que qualquer pessoa que se cruzava comigo poderia ser um informador da PIDE, e o medo voltou. Nessa altura começou a nascer em mim um misto de revolta e ódio ao regime salazarista,que ia dando em doido de tanto pular,cantar e sei lá que mais, quando aconteceu o vinte e cinco de Abril.

Mas foi sol de pouca dura. Mal nasceu o PPD, mais tarde transformado em PSD\PPD e o CDS\PP e depois de matarem Sá Carneiro,fundador do PPD,mas com umas ideias que não agradavam a muito boa gente desse partido,boa gente essa que vinha directamente de antigos cargos do regime deposto ou eram família de pessoas que haviam sido até ministros do antigo regime,por isso os genes está-lhes no  sangue,eu pensei para comigo: isto é uma questão de tempo. Não me enganei não. Durante anos andaram a adormecer-nos com paninhos quentes  e quando se apanharam no poder com um presidente, um governo e uma maioria eis que a repressão voltou. Não, não voltou?. Então o que me dizem às ameaças do primeiro ministro? . O que me dizem à anuência do presidente do CDS\PP?. O que me dizem ao silêncio do presidente da República?. O que me dizem às opiniões dos Constitucionalistas que se fartam de apregoar, que as novas medidas anunciadas por Passos Coelho,no que diz respeito ao corte nas pensões, ao despedimento de trinta mil funcionários, à obrigatoriedade da mobilidade de não sei de quantos mais com um corte no vencimento que pode chegar até ao ordenado mínimo,são inconstitucionais. E o que fazem os nossos governantes incluindo cavaco silva,este escrever com letras minúsculas não são um erro,escrevo com letras pequenas o nome do presidente da República porque este homem deixou de merecer o meu respeito e hoje sem medo posso dizer que cinicamente perdeu toda a vergonha continua a mexer os pauzinhos para o empobrecimento deste país.Pois como dizia, perante os avisos dos constitucionalistas, fazem orelhas moucas e continuam a fomentar o desemprego para que cada vez haja mais mão de obra disponível, mais quem faça por menos,logo há oportunidade para baixar salários, mais medo de se cair no desemprego e lá se vai o esforço de anos por impossibilidade de pagar os compromissos de cada um e lá volta o servilismo aos novos caciques que agora se chamam banqueiros, donos de hipermercados,donos de grandes grupos financeiros que em conluio com este governo e presidente da Republica vão tornando Portugal num país septomundista. A sorte que nós teríamos se fossemos considerados terceiromundistas. Duvidam que toda esta situação não foi bem pensada e está de acordo com os planos deste governo e deste presidente,juntamente com os grandes grupos financeiros deste país? a ver vamos.Só que quando enxergarmos esta realidade já será tarde, muito tarde.

Lembram-se os mais velhos de antigos pedintes que vagueavam de terra em terra esmolando qualquer coisinha. Pois preparêmo-nos para vermos ou sermos milhões de pedintes,que se calhar vamos guerrear-nos uns aos outros por uma migalha qualquer em vez de cortarmos o mal pela raiz depondo este governo demonstrando que o "Povo é Quem Mais Ordena".

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